Uma programadora introvertida que recebe superpoderes musicais após um terremoto não poderia ser menos extraordinária como a Fantástica Playlist da Zoey!
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Jane Levy como Zoey Clarck em Zoey's Extraordinary Playlist. Imagem: Divulgação/NBC |
No início da década passada, Ryan Murphy reinventou o gênero musical na televisão. Glee (2009-2015) foi uma das séries teens de maior sucesso além de também ter sido a responsável por fazer renascer o amor pelas performances musicais nas produções audiovisuais. A pavimentação desse terreno, fez com que fosse possível que Austin Winsberg, anos depois, lançasse uma dramédia com narrativa totalmente construída para contemplar grandes títulos da música americana: Zoey’s Extraordinary Playlist (2019-atual).
Zoey Clarke (Jane Levy) é uma inteligente programadora de computadores em uma empresa de tecnologia de São Francisco. Comunicação não é muito o seu foco e nem sua maior virtude. Zoey é introvertida e está sempre em meio aos códigos. Mas um evento incomum muda sua vida completamente: durante o exame de ressonância magnética, um terremoto promove uma simbiose entre a playlist ambiente e seu organismo. O evento faz com que ela desenvolva um superpoder de ouvir os sentimentos mais profundos das pessoas através da música. E assim, performances musicais dignas da Broadway a “perseguem” por onde quer que ela vá.
Sem entender muito bem como acontece, a ruiva pede ajuda a sua vizinha DJ e gênero fluido (que se entende como homem ou mulher dependendo do momento da vida), Mo (Alex Newell), para entender melhor essa nova habilidade. De Beatles a Katy Perry, vamos descobrindo o que está acontecendo na vida das pessoas ao redor de Zoey. O problema é que cada uma delas está passando por alguma dificuldade que só Clarke é capaz de ajudar.
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Zoey's Extraordinary Playlist. Imagem: Divulgação/NBC |
Convivendo com seus superpoderes
Quando menos espera, alguém surge cantando uma nova música para Zoey. O cômico da série é que a protagonista é totalmente alheia a esse universo e recorrentemente precisa que Mo a contextualize sobre a canção ou traduza a mensagem para ela – inclusive quando Mo confessa seus sentimentos e angústias sobre seu novo relacionamento. Assim, os vizinhos que anteriormente eram distantes, se tornam bons amigos.
A cultura americana é totalmente diferente do que temos no Brasil. Lá, é comum que as relações profissionais não saiam desse âmbito. O que é totalmente o contrário aqui. Por isso, Zoey não é íntima de nenhum colega, exceto Max (Skylar Astin), seu melhor amigo que em seu primeiro número, “I Think I Love You” (The Partridge Family), declara a ela todo seu amor. Seu superpoder a aproxima de Simon (John Clarence Stewart), executivo da área de marketing que enfrenta o luto e a culpa pelo suicídio do pai; e da sua chefe Joan (Lauren Graham), que enfrenta dificuldades no casamento.
Porém, no fundo a musicalidade acaba se tornando um trunfo. No âmbito familiar, a família Clarke está passando por um momento bastante delicado. Isso porque Mitch (Peter Gallagher), o pai de Zoey está no último estágio de uma doença degenerativa que provoca rigidez muscular e incapacidade motora (a Paralisia Supranuclear Progressiva). Ou seja, Mitch já não consegue se comunicar de nenhuma forma e o dom permite que Zoey entenda os desejos do pai e consiga promover um pouco da qualidade de vida que ele merece no fim da vida.
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Jane Levy como Zoey Clarke e Peter Gallagher como Mitch Clarke em Zoey's Extraordinary Playlist. Imagem: Divulgação/NBC |
Mais do que uma simples comédia musical
O drama familiar é a ponte que transforma Zoey's Extraordinary Playlist em uma série sensível e emocionante. Sem essa narrativa, a série perderia sua maior atuação (Gallagher) e o apelo mais profundo e genuíno relacionado ao dom de Carke. Portanto, não espere só risadas pois a emoção está constantemente presente no show.
Mas não é só isso. A Fantástica Playlist da Zoey também aborda temáticas interessantes em plano secundário como: a dificuldade de Mo se aceitar como gênero fluído dentro da igreja; ou os problemas no relacionamento do cuidador de Mitch com a filha que é deficiente auditiva. Por esse último, a produção incluiu no nono episódio da primeira temporada uma belíssima apresentação de “The Fight Song” (Rachel Platten), interpretada por Abigail (Sandra Mae Frank) em ASL, a língua de sinais americana.
É incrível o poder que a música tem de traduzir os sentimentos e a série faz parecer que todas as canções foram escritas exclusivamente para a trama dos personagens. Por fim, Zoey’s Extraordinary Playlist é uma comédia divertida, leve e original com um toque dramático que ajuda a esquecer a realidade surreal pandêmica. A primeira temporada está disponível no GloboPlay.