A comédia inteligente criada por Michael Schur para a NBC, questiona os valores éticos e morais através de uma utopia de vida após a morte.
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The Good Place. Imagem: Divulgação/NBC |
Eleita uma das melhores séries de 2020 pelo ex-presidente americano Barack Obama, The Good Place acompanha uma jovem em sua jornada após a morte no que seria o destino equivalente ao ‘céu’. Eleanor Shellstrop (Kristen Bell) é uma ex-vendedora de suplementos inúteis do Arizona. Ao morrer, Eleanor é recebida por Michael (Ted Danson) no ‘Good Place’, um lugar de eterna felicidade destinado a pessoas que fizeram o bem durante a vida.
O ‘Bom Lugar’ é um bairro arquitetado por Michael, um ser não humano que recebeu um corpo humanoide para facilitar a comunicação com os mortos. O bairro foi criado para que os seus moradores tenham plenitude no pós-morte. Para isso, possuem cores alegres e vivas, e até uma loja de frozen iogurt gratuita e ilimitada com sabores engraçados como ‘Roupas Limpas e Dobradas’ e ‘Bateria de Celular Carregado’. Além disso, o ‘Good Place’ ainda conta com uma assistente virtual que é uma espécie de ser mágico que realiza todos os desejos, a Janet (D'Arcy Carden).
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Ted Danson como Michael e Kristen Bell como Eleanor Shellstrop em The Good Place. Imagem: Divulgação/NBC |
Elenco carismático e narrativa inteligente
Todas os seres enviados ao ‘Bom Lugar’ possuem uma alma gêmea e Chidi é a de Eleanor. Chidi Anagonye (William Jackson Harper) foi um professor de ética e moral extremamente indeciso. Convencido de que existem respostas para todas as perguntas, Chidi dedicou sua vida a estudar os dilemas filosóficos da humanidade e entender a diferença entre certo e errado. Sabendo disso, e com medo de ser enviada ao ‘Bad Place’, Eleanor confessa que não deveria estar nesse lugar, já que sua vida foi totalmente o contrário do que se espera de uma pessoa boa. E quem seria melhor para ajudar a ex-vendedora a se tornar alguém melhor que um professor de filosofia?
Além dos humanos Eleanor e Chidi e dos não humanos Janet e Michael, outros dois personagens recém-chegados ao ‘Bom Lugar’ compõe o time de protagonistas, as almas gêmeas: Tahani (Jameela Jamil), uma socialite britânica egocêntrica que só se importa com a fama; e Jason (Manny Jacinto) um DJ fracassado que foi confundido com um monge.
Mas o que esses quatro humanos teriam em comum, além do fato de terem morrido? Eles foram selecionados a dedo e fazem parte do experimento torturante de Michael. Michael é ex-arquiteto do ‘Lugar Ruim’. Todos os quatro foram seres imperfeitos e em vida, tiveram muitos conflitos éticos e morais. O plano era mostrar que os seres humanos não são capazes de evoluir e mudar seus comportamentos.
Mas ao contrário do que os engenheiros do ‘Bad Place’ pensavam, Eleanor, Chidi, Tahani e Jason provam, instintivamente, que quando há intenção, é possível sim que essa mudança aconteça.
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The Good Place. Imagem: Divulgação/NBC |
A comédia além da vida após a morte
Ao perceber que foi enviada por engano ao ‘Bom Lugar’, Eleanor pede que sua alma gêmea a ajude a se tornar uma pessoa melhor. Partindo dessa possível falha logística, The Good Place baseia sua narrativa em questões morais e filosóficas sobre a vida e o que acreditamos existir no pós-morte. Uma comédia inteligente que vai além dos questionamentos embasados em crenças religiosas de céu e inferno. A tentativa de Eleanor em passar despercebida pelo sistema para aprender a ser uma ‘pessoa boa’ é a essência da série em suas quatro temporadas.
Geralmente, comédias de meia hora costumam ter a função de entreter e provocar reflexão, mas The Good Place vai além do simples questionamento do que é ser uma boa pessoa ou para onde vamos. O criador da produção, Michael Schur (de Parks and Recreation, The Office e Brooklyn Nine-Nine), contou com a ajuda de consultores da área da filosofia para construir os roteiros e todos os questionamentos propostos na série. Schur mergulhou verdadeiramente no propósito de entender a filosofia e todas as questões sobre ética, moral e morte para então reproduzi-los em uma sitcom de apenas 22 minutos.
Assim como Years and Years escancara e prevê as possíveis consequências da vida despreparada do século XXI e das escolhas erradas, as quatro temporadas de The Good Place mostram que em todas as ações há um esforço diário e invisível para que sejamos ‘bons’ ou ‘ruins’. A produção nos incentiva a pensar com senso de comunidade e não só como indivíduo. É muito daquele ditado “o que você faz quando ninguém tá olhando?”
O Bom Lugar abraça o caos e faz um raio x da personalidade do ser humano contemporâneo, revelando o puro suco de culpa crescente pela falta de empatia e compaixão da sociedade. A mensagem final é de que devemos dar o nosso melhor e tentar sempre, pois cada ser humano é capaz de se auto aperfeiçoar. E ainda assim, continuaremos sendo falhos pois a perfeição não existe – exceto com Beyoncé, que é 104% perfeita, conforme revela Michael a Tahani.