O longa da Hulu apresenta Andy Samberg e Cristin Milioti presos num loop temporal que os faz refletir, com leveza, sobre amor, vida e propósito.
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Cristin Milioti e Andy Samberg em Palm Springs. Imagem: Divulgação/Hulu |
Como seria sua vida se você revivesse o mesmo dia durante anos e anos? Aos que estão de quarentena desde março ou que aderiram ao trabalho de casa, essa tem sido quase que uma realidade. Mas e se, por algum erro magnético você estivesse preso em uma data por, sei lá, quatro décadas ou um milênio? Pois é, essa não é uma novidade no universo cinematográfico e Palm Springs (2020), da Hulu*, consegue trazer uma nova roupagem a esse elemento clássico da ficção científica: o loop temporal.
O dia em questão é 9 de novembro, data em que Sarah (Cristin Milioti), , será madrinha de casamento de sua irmã mais nova, Tala (Camila Mendes). Durante a festa chata, Sarah conhece Nyles (Andy Samberg), um dos convidados com quem ela estava se divertindo. Ao presenciar uma intensa perseguição que a leva até uma caverna misteriosa, Sarah cai num loop temporal e começa, então, a reviver o dia mais feliz da irmã. O curioso é que, além dela, Nyles também está preso, só que há muito mais tempo que ela, sem ideia ou pretensão de descobrir como sair dessa realidade.
Assim como em toda produção que o loop temporal aparece, é comum que o espectador espere que o arco central do filme seja a incansável busca pelo encerramento do ciclo. Só que essa não era a ideia do diretor Max Barbakow e do roteirista Andy Siara. Ao descobrir que Nyles abraça sua condição de vida infinita passando o dia na piscina bebendo cerveja, Sarah entra em desespero. A questão é que ele já está há tanto tempo preso no dia do casamento, que nem se lembra mais de como era sua vida antes do acidente.
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Cristin Milioti e Andy Samberg em Palm Springs. Imagem: Divulgação/Hulu |
Uma comédia romântica fora do comum
Por mais que Samberg e Milioti estivessem presos num espaço-tempo de cerimônia, embriaguez, infidelidade e discursos ruins de casamento, no desenrolar da trama seus personagens conseguem “burlar” a realidade e viver muitos dias diferentes, ainda que sempre na mesma data. Até Sarah aceitar que não importa o que ela faça, não há nada que os faça voltar ao normal, eles esgotam todas as alternativas possíveis para acabar com esse pesadelo – incluindo tentativas suicidas que sempre acabam na manhã do mesmo dia nove.
Mais do que tentar escapar da realidade que caíram, ao reviver o mesmo dia repetidas vezes, Nyles e Sarah acabam construindo um relacionamento entre momentos de diversão e crises existenciais. Pelo tempo, Nyles se tornou alguém desapegado e sem preocupações, tendo inclusive desenvolvido um grau de depressão pela extrema monotonia e solidão. Ele não acredita no amor e não aguenta mais reviver o mesmo dia, mas aprendeu a aceitar que não consegue mudar. Qual o sentido de viver, então, se não conseguimos voltar ao normal?, questiona Sarah. “Nós meio que não temos escolha a não ser viver”, responde Nyles. “Então eu acho que sua melhor aposta é aprender a sofrer a existência”, conclui.
A fórmula hollywoodiana de comédias românticas já está mais do que batida, isso é fato. Com diálogos inteligentes e uma pitada de drama, Palm Springs explora muito bem o gênero. Embora ambos estejam presos no dia 9 de novembro, o longa não insiste que um dos personagens precisa ser salvo. Nyles e Sarah escolhem juntos, cada um por seus motivos, saírem dessa repetição e depois, escolhem um ao outro. E é assim que a dramaturgia deveria reproduzir os relacionamentos desde sempre.