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Lily Collins como Ellen em O Mínimo para Viver. Foto: Divulgação/Netflix |
Em tempos de redes sociais, os níveis de exposição são altos e a quantidade de corpos diferentes e esteticamente perfeitos fazem com que o padrão imposto pela sociedade do consumo continue sendo desejado, sobretudo por mulheres. Para uns, a magreza tem relação com algum fator genético. Para outros é questão de status, beleza ou obsessão. O Mínimo para Viver (2017), longa da Netflix, fala de anorexia tendo como base a história da diretora Marti Noxon, que sofreu do distúrbio.
Ellen (Lily Collins) é uma jovem introspectiva que tem fixação por contar cada caloria que ingere. Ela acabou de voltar de um período em uma clínica para tratamento da anorexia, mas continua doente. Ellen está morando com a madrasta Susan (Carrie Preston), a meia irmã Kelly (Liana Liberato) e o pai que nunca dá as caras. Além de lidar com a constante expectativa de ser notada pelo pai, aos 13 anos sua mãe, Judy (Lili Taylor), se assumiu lésbica e foi morar com outra mulher. Por um tempo Ellen viveu com elas, mas a mudança de estado da mãe somada ao desejo de se aproximar com o pai a fez decidir morar com ele.
Por insistência da madrasta e da irmã, Ellen decide dar uma chance a um novo tratamento e segue para uma nova clínica. O Dr. William Beckham (Keanu Reeves) é conhecido por ter um método diferente. Através de um sistema de compensação ele deixa todo o tratamento na mão dos pacientes. Se comem e agem com bondade ganham pontos, senão perdem. Essa pontuação permite que ganhem passe livre para saídas noturnas como jantar ou cinema.
A produção coloca Beckham como o salvador de Ellen. O médico não só é verdadeiro com ela, dizendo que não vai insistir pelo tratamento, como também a trata como uma criança. Segundo ele, assim os pacientes parecem entender melhor sobre suas realidades. Não há alguém ou algo a se culpar pela anorexia. Não é tão simples e é uma batalha perdida. Porém, se ela quiser melhorar, seguindo suas regras ela conseguirá.
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Lily Collins como Ellen e Keanu Reeves como Dr. William Beckham em O Mínimo para Viver. Foto: Divulgação/Netflix |
Nem toda magreza é sinônimo de beleza
O Mínimo para Viver não se preocupa em mostrar os distúrbios alimentares sob a perspectiva dos outros personagens. Eli (apelido que Ellen recebe durante o novo tratamento) é o ponto focal da trama e já assusta o suficiente para tal. No entanto, é possível notar uma paciente grávida que luta contra a anorexia e bulimia, outra que sofre de compulsão alimentar, um bailarino que também sofre de anorexia e outras duas pacientes com bulimia.
Ao mesmo tempo em que O Mínimo para Viver é delicado e sensível ao mostrar as facetas e truques de Ellen para enganar a todos de que ela continua sem se alimentar direito, o longa é desconfortável. A anorexia não é um peso só para quem sofre do distúrbio. Familiares, amigos e quem mais conviver ao redor do doente sofre junto por não saber como ajudar. O desconhecimento somado ao nítido desinteresse de Ellen em melhorar, fazem com que todos fiquem constantemente preocupados e com sensação de que ela vai morrer a qualquer momento.
Mas Ellen acha que tem tudo sob seu controle. Collins está em pele e osso, seus olhos com maquiagem escura e sua palidez causam desconforto e assustam. Essa aparência de fantasma leva a produção a um lugar mais próximo de conscientização sobre a anorexia. Sua personagem não se sente doente e sua situação é complicada. Porém, seus old ways continuam a fazendo contar calorias à mesa, exagerar nas abdominais e ficar medindo a largura do braço com os dedos, fora a excessiva preocupação em ganhar peso.
Embora a produção não seja cinematograficamente boa, por se perder no enredo da metade em diante, na missão de abrir o debate para os transtornos alimentares ela é eficaz. Assim como Dietland tenta criticar toda a estrutura da indústria do consumo, To The Bone (nome original do filme) consegue escancarar as peculiaridades da anorexia. As pessoas que sofrem da doença são obcecadas por alcançar um corpo que estruturalmente não é equivalente a todos e isso é um problema que talvez as próximas gerações consigam resolver. De todo o modo, O Mínimo para Viver ajuda a entender que nem toda magreza é sinônimo de beleza e saúde.