Com primeiro protagonista negro, Pixar entrega uma história emocionante e reflexiva com timing perfeito sobre propósito de vida.
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Soul Filme. Imagem: Divulgação/Disney/Pixar |
É verdade que as animações são produções (per)feitas para as crianças. Mas nos últimos anos, temos visto tantas com camadas profundas que qualquer jovem ou adulto termina em lágrimas. É o que acontece com Divertida Mente (2015) que foca nas emoções; Zootopia (2016), que incentiva que busquemos a mudança que queremos; e Viva: A Vida é uma Festa (2017) que reflete sobre as memórias das pessoas que já partiram. Este também é o caso de Soul (2020), filme dos studios Disney-Pixar lançado no dia de Natal, no Disney+, que explora uma das maiores questões existenciais: qual o seu propósito?
A animação gira em torno de Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de música do ensino médio que sonha em se tornar músico profissional. Um dia, sua grande oportunidade chega: ele é convidado a se apresentar em um clube Nova Iorquino. Mas antes que pudesse realizar seu sonho, Joe sofre um acidente caindo em um bueiro, que o coloca em coma entre a vida e a morte.
Joe é apaixonado por jazz. Quando acorda na grande escada rolante cósmica, ao perceber sua morte e que não poderá se apresentar no clube com a saxofonista Dorothea Williams (Angela Bassett), entra em pânico. Na tentativa de não deixar que sua alma vá para verdadeiramente para o além, Joe acaba caindo no ‘Grande Antes’, uma espécie de céu preparatório para novas almas. Lá ele acaba se tornando mentor das baby almas e conhece 22 (Tina Fey), a 22ª alma criada que nunca teve vontade de encontrar seu propósito para ser enviada a Terra.
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Soul Filme. Imagem: Divulgação/Disney/Pixar |
O timing perfeito para uma dose de existencialismo
Ao se tornar mentor de 22, Joe descobre que há uma possibilidade de recuperar sua vida. Seu acidente aconteceu justamente quando ele havia recebido a oportunidade que tanto desejava. Com uma sensibilidade incrível, a Pixar insere na trama a grande questão do filme na forma da incansável busca de Joe pela realização de seu sonho. Assim como The Good Place busca responder o que é ser uma pessoa boa, a animação tem duas questões existenciais que em sua essência: qual sua missão de vida? E o que faz que você seja você?
Quando Joe e 22 caem por engano na Terra, (a alma de Joe cai no gato da terapia hospitalar e a alma de 22 cai no corpo de Joe), somos constantemente bombardeados com as pequenas coisas do dia a dia que não são valorizadas. Como essa é a primeira vez de 22 na Terra, ela caminha no corpo de Joe meio desajeitada mas essa é a sua chance de sentir o gostinho do que é viver: o metrô de Nova York, as músicas, o sabor da pizza, as folhas da árvore caindo.
Não é só a filosofia e sensibilidade que fazem com que Soul seja uma produção de tanto sucesso. O delicado momento que estamos vivendo também ajuda. A pandemia de coronavírus virou de cabeça para baixo a vida de todo mundo. É natural que 2020 tenha sido um ano de grandes introspecções e reflexões profundas. E através de Soul, o diretor Pete Docter conseguiu um timming perfeito para perguntar se de fato estamos vivendo ou esperando que algo maior aconteça. É quase impossível não terminar a animação com os olhos cheios d’água.