Há dez anos, Caterina Scorsone é intérprete de Amelia Sheperd, uma das médicas mais queridas da maior série médica da atualidade: Grey's Anatomy.
![]() |
Caterina Scorsone como Amelia Sheperd em Grey's Anatomy. Imagem: Divulgação/ABC |
A maior série médica da história da TV americana é carregada de grandes personalidades femininas. Há dez anos na telinha, Caterina Scorsone interpreta Amelia Francis Sheperd, atual chefe da neurocirurgia no Grey-Sloan Memorial. Hoje, Amelia é uma das personagens mais queridas pelo fandom em todos os cantos do mundo. Mas nem sempre a neurocirurgiã foi amada e admirada. Por muito tempo ela viveu a sombra de seu irmão Derek (Patrick Dempsey). Embora Amy só tenha entrado para o elenco fixo de Grey’s Anatomy (2005–atual) na décima temporada, sua história começou a ser desenhada na terceira temporada do spin-off Private Practice (2007-2013).
Amelia passou por algumas (muitas) experiências traumáticas e por muitos anos ela encontrou nas drogas e na bebida um “alívio” para todas as suas dores. Ter presenciado o assassinato de seu pai, aos cinco anos de idade, ao lado de Derek, fez com que seu mundo desmoronasse pela primeira vez. Essa perda a marcou de um jeito único fazendo com que conhecesse o seu lado obscuro e permanecesse lá por um tempo. Até ter sua primeira overdose ainda adolescente, que provocou sua ligeira morte por três minutos. Amelia foi salva pelo irmão e o episódio a ajudou a ficar sóbria.
Conhecida como “a ovelha negra”, Amelia Sheperd é a caçula de cinco irmãos. Desde os seis anos sabia que seria cirurgiã, se graduando como primeira aluna da classe em Harvard depois da reabilitação. Depois da dependência, sua família sempre a associou às drogas e a rebeldia. Derek era o primeiro da lista a ser desagradável lembrando o tempo todo do vício da irmã e a colocando em posição de inferioridade. Foram poucas as vezes que o neurocirurgião reconheceu o talento da caçula.
Mas o vício de Amy estava diretamente ligado aos eventos catastróficos que aconteceram em sua volta. Além do pai, ela perdeu sua melhor amiga, Michelle (Sydney Tamiia Poitier) por uma overdose suicida; seu noivo Ryan Kerrigan (Wes Brown), de quem ficou grávida de um bebê anencefálico, também morreu de overdose ao seu lado; o bebê Christopher Sheperd, devido a condição genética; e seu irmão Derek, em um acidente de carro.
![]() |
Caterina Scorsone como Amelia Sheperd em Grey's Anatomy. Imagem: Divulgação/ABC |
Todos esses acontecimentos fizeram com que ela se fechasse em seu mundinho e se isolasse. Muitas das pessoas com que ela se relacionou morreram de forma trágica, é compreensível que seu comportamento instintivo seja fugir ao menor sinal de problema. Esse, na verdade, era um padrão de comportamento de Amelia Sheperd. Foi assim quando descobriu a morte de Derek, que se recusou a aceitar o luto por quase um ano; e também foi assim quando suspeitou estar grávida de Owen Hunt (Kevin McKidd), com quem havia casado precipitadamente.
A ideia de engravidar novamente fez Amelia evitar Owen de todas as maneiras possíveis. O mergulho entre casos fez a neurocirurgiã participar de um estudo que visava mapear o cérebro feminino durante o orgasmo. Esse estudo a fez descobrir um tumor no lobo frontal, região responsável pela personalidade e tomada de decisões. Ela não sabia mas já convivia com o cisto de dez centímetros a dez anos. Durante toda a sua vida, Amelia ouviu comentários depreciativos sobre si mesma. Louca, despreparada, frágil, viciada. Em raras ocasiões recebeu apoio de familiares de sangue. A descoberta do meningioma grau I benigno a fez questionar todas as suas escolhas: o casamento, as drogas, as cirurgias…
E mesmo que muitas das suas ações possam ter sido influenciadas pelo tumor, Amelia nunca deixou de ser uma excelente médica. Toda a dúvida por trás da sua conduta, o sentimento de não ser capaz e a dificuldade de reconhecer o seu talento a tornam uma personagem mais humana e realística. Sua taxa de mortalidade era menor que a de Derek, que era considerado o melhor neurocirurgião de Seattle. A síndrome do impostor e os julgamentos alheios fizeram com que ela se enxergasse com os olhos do tumor, querendo encontrar uma desculpa plausível para suas falhas humanas.
Por que ainda tentamos quando as barreiras são tão altas e as chances são tão baixas? Por que simplesmente não embalamos e vamos para casa? Seria muito, muito mais fácil! É porque, no final das contas, não há glória no fácil. Ninguém se lembra do fácil. Eles se lembram do sangue, dos ossos e da longa e agonizante luta até o topo. E é assim que você se torna lendário. | Amelia Sheperd, Grey's Anatomy.
![]() |
Caterina Scorsone como Amelia Sheperd em Grey's Anatomy. Imagem: Divulgação/ABC |
Porque Amelia Sheperd é uma super-heroína
Na vida e na ficção, as dificuldades podem fazer com que as pessoas se tornem amargas, pessimistas e insuportáveis. Isso não acontece no universo construído por Shonda Rhimes. Amelia é uma super-heroína por ter lutado contra a dependência não uma, mas quatro vezes. Superar um vício não é algo simples, requer resiliência e muita força de vontade. E ela foi capaz de levantar mais forte todas as vezes que caiu.
Ter gerado o Christopher a fez mãe de um bebê arco-íris e deu a sensibilidade necessária para que ela pudesse ser empática com outras mães e familiares naquela situação. Ter enfrentado dependência química fez com que ela se solidarizasse com uma adolescente viciada que acabou de entregar um bebê a adoção.
Parece que quanto mais tragédia acontece, mais Amelia consegue catalisar essa energia e transformar em bom humor. Ao longo de dez anos, assistimos crescer uma mulher caótica, dramática e sorridente, mesmo com todos os maus eventos que a cercam e seu passado sombrio. Acompanhar a evolução de Amelia Sheperd ajuda a compreender o quão difícil é a vida do viciado (que mesmo sóbrio nunca deixa de ser viciado). Ela ensina a não desistir de si mesmo sob nenhuma circunstância. Por isso ela compõe o time de super-heroínas badass e lendárias de Grey’s Amatomy.
![]() |
Caterina Scorsone como Amelia Sheperd em Grey's Anatomy. 11ª temporada, episódio 14. Imagem: Divulgação/ABC |